(Homem Velho com a Cabeça em Suas Mãos - Van Gogh)
De
olhos abertos e sentimentos rasgados, vou por ai arrastando a minha alma.
Confundo a localização da minha sombra e corpo. Esqueci de tomar a minha dose
diária de ilusão. Pode ser que tenha tomado e não esteja mais fazendo efeito. A
realidade crua talvez seja saborosa para quem gosta de sushi. Vou me lembrando
das canções que me avisam de que viver é que é foda, desnecessário e perigoso.
Ironicamente, as suas irmãs me dizem que viver é o maior delírio, alucinação e
gozo. Decidam-se.
Passeio
pela calçada com a sensação de que caminho pela corda bamba. Distribuo cortesia
e simpatia. Será que não enxergam as linhas segurando o sorriso? Faço o esboço
de um choro, mas as minhas lágrimas não têm coragem de pintarem a face e
secarem ao sol furioso. Engano meu, devem ser espertas de mais para morrerem em
vão.
Assisto
emocionado à fabulosa tragédia grega que é a vida. Sempre gostei mais de filmes
com doses cavalares de humor. Uma ambulância transporta um defunto do descaso.
O som da sirene me avisa da possível diminuição populacional. Uma vida
desconhecida que pode se esvair. Uma vida. Mas, as pessoas muito preocupadas
estão fudendo para isso. Questiono-me se pôr um filho nesse mundo é um ato de
amor ou egoísmo. Uma criança passa por mim correndo livre e com um sorriso
sincero. A alegria temporária que me invade, soluciona a questão.
Coloridos
escravos modernos seguem para as plantações de concreto. O mau passado entalou
na garganta. Exageraram no sangue. Maldito momento em que li o primeiro livro
de poesia. Infantil. Maldito Einstein. Oh!Doce ilusão! Pergunto-me quando
ficarei louco. Ou será que a insanidade já tomou conta? Não... eles é que estão
loucos. Estabelecendo meus parâmetros, jamais enlouquecerei.
Vejo
pessoas cuspirem ódio umas às outras. A culpa é sempre e somente do outro.
Todos armados com escudos mentais e espadas ignorantes. Os que mais precisam de
amor, são os que menos têm. Óbvio ululante. Ninguém parece ouvir. Onde falta
amor, ganha espaço a dor. Onde há dor, o ódio reina. Galos da mesma classe
brigando entre si. Das feridas escorrem lucros. Não são dos galos. Estes,
treinados para digladiarem até a morte, às vezes arranham os donos. Uma bala na
testa ou prisão. Os outros galos, estupidamente, sorriem.
Continuo
a caminhar, pesaroso se devo continuar ou retornar para debaixo dos lençóis.
Como é apassivador o cheiro de amaciante. Ouço discutirem o banal com
seriedade, o sério com banalidade. Correm a vida inteira atrás do ouro de tolo.
Inútil. Joguei o meu aos ratos. Na busca
estúpida, perdem o sabor da comida, o cheiro da flor. Não riem do fácil. Sem
abraços e nem braços. A chuva é inimiga. O sol incômodo.
Tento
juntar os cacos da minha alma, montar o quebra-cabeça de meus pensamentos. Tudo
tem sentido. Nada faz sentido. Peguei a direção errada em algum momento. Por
que deveria seguir as placas? Sinto a morte caminhar paralela a mim, pôr a mão
em meus ombros e perguntar: tudo bem? Pressinto minha morte nos carros apressados,
nas armas violentadas, no meu coração rebelde, nas coisas estúpidas. Tenho
medo. Sim!!Medo!!Quem lhe disse que eu quero morrer?
Se
ao ler estas linhas esteja pensando em pegar o revólver na gaveta, ou onde quer
que esteja, ou em buscar a navalha no banheiro, lembre-se de dar o tiro na
nuca, no primeiro caso, e cortar o pulso horizontalmente, no segundo caso. Se continua a ler, lembre-se que as
folhas secas caem das árvores para que o vento leve o que morreu. Encontre na
lama o seu banho de sais aromatizantes. Talvez na primavera nasçam flores
coloridas de vida e cheirosas de sabor. Talvez brote u(n)m(s) amor(es). Talvez
um conto ou uma nova música antiga nos salve. Talvez.
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