segunda-feira, 27 de julho de 2015

Piece of Shit

(Homem Velho com a Cabeça em Suas Mãos - Van Gogh)

De olhos abertos e sentimentos rasgados, vou por ai arrastando a minha alma. Confundo a localização da minha sombra e corpo. Esqueci de tomar a minha dose diária de ilusão. Pode ser que tenha tomado e não esteja mais fazendo efeito. A realidade crua talvez seja saborosa para quem gosta de sushi. Vou me lembrando das canções que me avisam de que viver é que é foda, desnecessário e perigoso. Ironicamente, as suas irmãs me dizem que viver é o maior delírio, alucinação e gozo. Decidam-se.
Passeio pela calçada com a sensação de que caminho pela corda bamba. Distribuo cortesia e simpatia. Será que não enxergam as linhas segurando o sorriso? Faço o esboço de um choro, mas as minhas lágrimas não têm coragem de pintarem a face e secarem ao sol furioso. Engano meu, devem ser espertas de mais para morrerem em vão.
Assisto emocionado à fabulosa tragédia grega que é a vida. Sempre gostei mais de filmes com doses cavalares de humor. Uma ambulância transporta um defunto do descaso. O som da sirene me avisa da possível diminuição populacional. Uma vida desconhecida que pode se esvair. Uma vida. Mas, as pessoas muito preocupadas estão fudendo para isso. Questiono-me se pôr um filho nesse mundo é um ato de amor ou egoísmo. Uma criança passa por mim correndo livre e com um sorriso sincero. A alegria temporária que me invade, soluciona a questão.
Coloridos escravos modernos seguem para as plantações de concreto. O mau passado entalou na garganta. Exageraram no sangue. Maldito momento em que li o primeiro livro de poesia. Infantil. Maldito Einstein. Oh!Doce ilusão! Pergunto-me quando ficarei louco. Ou será que a insanidade já tomou conta? Não... eles é que estão loucos. Estabelecendo meus parâmetros, jamais enlouquecerei.
Vejo pessoas cuspirem ódio umas às outras. A culpa é sempre e somente do outro. Todos armados com escudos mentais e espadas ignorantes. Os que mais precisam de amor, são os que menos têm. Óbvio ululante. Ninguém parece ouvir. Onde falta amor, ganha espaço a dor. Onde há dor, o ódio reina. Galos da mesma classe brigando entre si. Das feridas escorrem lucros. Não são dos galos. Estes, treinados para digladiarem até a morte, às vezes arranham os donos. Uma bala na testa ou prisão. Os outros galos, estupidamente, sorriem.
Continuo a caminhar, pesaroso se devo continuar ou retornar para debaixo dos lençóis. Como é apassivador o cheiro de amaciante. Ouço discutirem o banal com seriedade, o sério com banalidade. Correm a vida inteira atrás do ouro de tolo. Inútil. Joguei o meu aos ratos.  Na busca estúpida, perdem o sabor da comida, o cheiro da flor. Não riem do fácil. Sem abraços e nem braços. A chuva é inimiga. O sol incômodo.
Tento juntar os cacos da minha alma, montar o quebra-cabeça de meus pensamentos. Tudo tem sentido. Nada faz sentido. Peguei a direção errada em algum momento. Por que deveria seguir as placas? Sinto a morte caminhar paralela a mim, pôr a mão em meus ombros e perguntar: tudo bem? Pressinto minha morte nos carros apressados, nas armas violentadas, no meu coração rebelde, nas coisas estúpidas. Tenho medo. Sim!!Medo!!Quem lhe disse que eu quero morrer?
Se ao ler estas linhas esteja pensando em pegar o revólver na gaveta, ou onde quer que esteja, ou em buscar a navalha no banheiro, lembre-se de dar o tiro na nuca, no primeiro caso, e cortar o pulso horizontalmente, no segundo caso.  Se continua a ler, lembre-se que as folhas secas caem das árvores para que o vento leve o que morreu. Encontre na lama o seu banho de sais aromatizantes. Talvez na primavera nasçam flores coloridas de vida e cheirosas de sabor. Talvez brote u(n)m(s) amor(es). Talvez um conto ou uma nova música antiga nos salve. Talvez. 

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